segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Tom Moulton – O Inventor do Single

Tom nasceu em NY, em 1940. Apesar de ser de etnia branca gostava de black music. Isso era meio embaraçoso por contra da segregação racial forte na sociedade americana.
Portanto, até bem pouco antes de fazer 30 anos, em 1970, não era comum nem era bem visto um branco que fosse amigo de negros ou que gostasse e protegesse algo dessa outra cultura. Lembram-se do Martin Luther King, morto em 1968, “I have a dream...“ e coisa e tal?
Pois bem, certa feita, Tom foi a um lugar dançante, digamos assim (ainda não existiam as discotecas – pelo menos não existia esse nome), chamado Fire Island e que ficava no subúrbio novaiorquino.
O que ele viu nesse lugar foi algo que ele mesmo considerou impressionante: muitas pessoas brancas dançando efusivamente melodias negras. Ou seja, ele descobriu que não estava sozinho no mundo.Uma coisa que incomodou Tom, observando a “pista” de dança, foi o fato de que as músicas eram curtas demais, como qualquer música que executa nas programações de rádios de hoje em dia. Ou seja, tinham em média três minutos. E havia um esforço de mixagem grande por parte dos, digamos, DJs (não se esqueça que esse nome DJ também surgiu pouco depois dessa época) para misturar as curtas e vocalizadas músicas.
É como se você tentasse mixar a versão original de YMCA, do Village People, com a versão original da música do Carl Douglas, Kung Fu Fighting, ou algo semelhante. Ambas as músicas são curtas e terminam com o volume diminuindo aos poucos dentro do último refrão. Além disso, as introduções são pouco demoradas e com trechos de velocidade variável. É quase impossível mixá-las produzindo um resultado que faça sentido e seja dançante. Ainda mais que não havia equipamentos com maior precisão, como os que surgiram a partir dos anos 80.
Nas palavras do próprio Tom Multon, ele “...achava aquilo horrível (as mixagens) porque as pessoas não sabiam se dançavam a primeira ou a segunda música... e elas que já eram curtas ficavam ainda mais com os cortes para as passagens entre uma e outra...”.
E, após perceber que muitos deixavam a pista de dança após várias dessas desastrosas passagens, ele teve a idéia de tentar prolongar as músicas para que as pessoas pudessem curtir suas músicas preferidas por mais tempo na pista de dança e que, de alguma forma, também ajudasse a melhorar as mixagens.
Nessa época ele era o que se chama hoje de divulgador, ou mais que isso, um promoter (no sentido de “modelo”) de uma gravadora. Isso o ajudou a obter material para o “Disco Mix” que ele inventou. O nome Disco Mix foi dado aos primeiros remixes, que eram apenas versões estendidas das músicas (extended mix). Mas foi um longo caminho até lá.
Os primeiros passos foram dados com fitas gravadas (rolos) que ele produzia e distribuía em casas noturnas com versões estendidas e com mixagem contínua das músicas. Era, realmente, muito dançante para os padrões da época.
Mas antes de algo dar certo, ele viu as portas baterem na sua cara até alguém ter a coragem de experimentar “aquelas fitas montadas”. Depois que veio a aceitação das fitas e iniciou-se até uma grande procura por elas que durou algum tempo, ele, que tinha aspirações artísticas, percebeu que outros estavam levando créditos pelo seu trabalho.
Alguns DJs colocavam as suas fitas para tocar e faziam de conta que estavam mixando, ao vivo, o som que saída da fita. Uma pequena farsa (que acontece também nos dias de hoje). Motivado por isso ou não, ele parou de distribuir as fitas.

SURGE O 12" MIX

A parte da criação do formato 12” mix (single de 12 polegadas) deu-se por acaso. Na época em que começou a prensar em mídia um dos seus remixes, o natural seria usar os discos compactos (que comportam uma música de cada lado – raramente duas) e que possuíam 7” (7 polegadas). E começou-se a criar os Disco Mixes assim.Mas, na prensagem de um de seus “trabalhos” posteriores, porém, este tipo de mídia estava em falta e ele acabou usando, por acaso, uma mídia de 10 polegadas.Ao usar uma mídia de 10 polegadas, a maior parte do disco de vynil ficaria “em branco”, já que o mesmo só possuiria uma faixa. Daí ele e seu companheiro “remasterizador” José Rodrigues resolveram dar um jeito para o disco ficar mais preenchido. Em verdade, era Tom quem tinha as idéias para as músicas, mas quem realmente pôs a mão na massa para fazer as edições e montagens dos discos foi o seu “colega” José.

O colega está entre aspas porque ele o conheceu por acaso. Certa feita, Tom chegara na gravadora em uma sexta feira com uma nova música do The Trampps para remasterizar e prensar. O encarregado principal, Dominic, lhe disse que não faria aquele trabalho, pois já estava saindo para o final de semana. “Sobrou-lhe” então o porto-riquenho José Rodrigues para fazer a tarefa. Tom ficou bastante satisfeito com o trabalho de José e, depois, na medida em que as coisas foram dando certo e o talento de José se revelando ainda mais, a amizade firmou-se. Até então José era um mero e desconhecido assistente de estúdio de gravadora.
Bem, continuando a história, houve uma ocasião em que não havia mídia de 7” para prensar o remix no disco e o jeito foi usar um acetato (disco de vinil) de 10”. A fim de evitar, então, que a maior parte da mídia que conteria apenas uma música ficasse com grande espaços a solução que eles deram para preencher mais a mídia foi alargar os sulcos do disco.
Como todos os DJ profissionais e audiófilos curiosos de hoje sabem, quanto maior a largura do sulco, melhor a qualidade do som. E com o sulco mais largo uma velocidade maior é exigida para uma melhor qualidade sonora e é por isso que esse tipo de single roda em 45 RPM. Abismados com o excelente e acidental resultado, resolveram experimentar alargar ainda mais o sulco em uma mídia de 12 polegadas. O resultado foi ainda melhor.
E foi assim que surgiu o 12 inch, ou Disco Mix, ou “bolachão”, ou simplesmente o remix. A partir dos anos 80 os remixes ganharam outra dimensão que persiste até hoje. Eles passaram não só a estender as músicas (extended mix), como passaram, alguns, a transformarem totalmente as músicas, muitas vezes “salvando” as versões originais.
Por exemplo, muitos que compraram o disco do Erasure, nos anos 80, com a música A Little Respect, podem ter se decepcionado ao ver que a versão do álbum nada tinha a ver com aquela executada nas casas noturnas (em versão house eletrônica). O mesmo pode ser dito para Madonna "Express Yourself" ou Pet Shop Boys "Always on My Mind", bem como para centenas de outras faixas.
Faltou dizer que o primeiro single surgido neste formato acidentalmente “descoberto” de 12 polegadas foi o single da música I'll Be Holding On, de Al Downing.
E ainda há muita estória a ser contada...

Crédito : Augusto Pedroza - Disco Music Brasil e Pool Web Radio


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